terça-feira, 14 de junho de 2016

Capela de Picões (Valpaços) - crónica de uma destruição anunciada


Capela de Picões. Uma joia arquitectónica da 1ª metade do sec. XVIII

Altar profanado e destruído.


Outra vista do altar.

As peças verticais em talha de maior dimensão e a escultura do Santo foram roubadas no ano passado.
 Localizada entre montanhas de paisagem deslumbrante, num vale que desce em declive para o rio Rabaçal, esta jóia arquitectónica da primeira metade do século XVIII, tem vindo a ser objecto de visita por pessoas que, de forma egoísta e criminosa, a pouco e pouco, a foram roubando e destruindo, de modo que, actualmente, já só tem as paredes e o telhado. E portas sempre escancaradas, porque não há fechaduras nem cadeados, por mais grossos que sejam, que resistam à brutalidade de tais visitantes.
Infelizmente foram surgindo factores que facilitaram a situação, como o despovoamento total da Quinta e a falta de manutenção dos caminhos, principalmente dos caminhos históricos como este. As giestas e as silvas crescem por todo o lado e dificultam a deslocação, o que inviabilizou a realização da missa anual a Santo António, sempre muito concorrida pelas pessoas da freguesia (Bouçoais) e das freguesias vizinhas. 
Aqui há oito anos começaram por desaparecer os florões e pináculos em granito, que emolduravam o adro. De seguida foi a vez do sino da capela.
No ano passado foi profanada no seu interior, com o desmantelamento de parte do altar: elementos verticais em talha de maior dimensão; anjos e florões que faziam de adornos e remates. A escultura do Santo António, orago original da capela, também foi nessa leva.
No passado dia 13, dia do orago, um grupo de pessoas da vizinha aldeia da Lampaça, como é costume, fez um passeio a Picões, com o objectivo de visitar a capela, mesmo sabendo que o Santo já lá não morava. Na descida do monte e com a capela à vista, facilmente nos apercebemos que, mais uma vez, as portas se encontravam escancaradas e, então, até pareceu que as pernas se recusavam a continuar, com o receio de presenciar o cenário dantesco que, infelizmente, veio a acontecer.
Visita de vizinhos da Lampaça, no dia do orago.
Daqui já se viam as portas escancaradas.
As forças faltavam para subir o pequeno lance de escadas.
Aproxima-se, então, um cenário triste.
O que não foi roubado ficou aos pedaços pelo chão.
E assim se destrói um património histórico
O Francisco, atónito, assiste também ao triste espectáculo.
Naquele momento é difícil sentir o perdão para seres humanos que se comportam deste modo. De forma gratuita e egoísta, destruem a nossa história e o legado de paz e humanidade, inscrito na memória de um Povo e de uma Região.
Não pode haver motivação para atentados como este.
Espero que as Justiças deste País, descubram e identifiquem os autores que, reiteradamente, têm vindo a praticar este bárbaro atentado que diminui e empobrece o nosso património histórico e religioso.

E a todos nos deixa tristes !

A capela do Santo António de Picões foi construída na década de 1730, por António de Sá Pereira do Lago, descendente da família dos morgados de Vilartão.

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